exército pt. 1
448 palavras emprefiro ser algo,
no rádio, no carro de minha mãe
gritando, casualmente
se você tivesse me dado uma chance
poderia ter provado que nada faço
nada colaboro, nada voluntário
nada na gritaria
nenhum lugar que preferiria estar
longe dali
substitua as baterias
caminhava com cabeça erguida
mochila nas mãos, guarda-chuva na mochila
luzes reverberavam pela estrutura
que guardavam os soldados sentados
irônicos, com sorrisos de graxa
ao lado do sargento machento
dizia “você está bem
gosto de você
vai dar tudo certo
não pare de estudar
essas gotas são falsas, você sabe
o caminho até o alojamento é real”
toc, toc, tênis de corrida batendo
no chão de coturno
toc, toc, luz da noite
soldados desavisados,
contando o tempo que não passa
telefone toca, fuzil no chão como uma tocha
vejam, estou com um fuzil,
observem como estou com um fuzil
amigo, veja, estou com um fuzil
engraçado, fuzil, liga com a cara
deplorável, espinhenta, esquisita, pouco-fuzil
daquele soldado fuzilento
perto ou longe
somos diferentes
não somos?
hora de ir para o ponto
pisando, forte, olhando para cima
o cima que me deu a ausência de luz
o brilho cintilante das estrelas
no som dos gritos estridentes, forçados
do sargento esforçado
“rapaz, você é uma vergonha para a companhia”
olho para cima
“outro rapaz, você não irá ser o que somos”
olho para cima
brilha, brilha muito o que perco
o que cintila
é o rapaz, também
comemos, corremos, de noite, e tiramos uma foto
foto minha a baixo do que resplandece
carrego essa foto comigo
“você estava magro”
“você estava diferente”
“você estava morto”
não, estava vivo
vivo obrigatoriamente
mentindo estar vivo
vivendo pouco do que podia
no rancho dos oficiais
no máximo que poderia viver
caminhava, com cabeça erguida, como me ensinavam
gorro ajustado, camiseta para dentro da calça
não, não vou comer isso
se posso, comerei no restaurante lá fora
no que cintila, no que brilha, na vista da janela
“lá fora não pode mais”
mas pode aqui dentro, então?
na coxa, que corre e amortece
aqui estarei
longe de vocês
hora de correr
pisa, pisa,
como te ensinaram no começo
como te mostraram no certo
como o homem deve ser
grita, grita,
acaba com eles
os fracos, os acabados, os confusos
os que não conseguem pisar, gritar
confusos, escutam a nossa cautela
sem entender sua necessidade
corre, corre
fiz um texto disso, não?
correr para onde, soldado?
se há uma cancela ali, naquele lugar
você deve permanecer sentado
levantar
e
sentar
e
levantar
e
sentar
até aquela cancela abrir
e você sentar
suando?
voluntário de caixas
veja, estrangeiro
carregue o que deverá usar
tamanhos surreais
levante a mão, seu bosta
se encaixe