se parar, é pior representação gráfica sobre as letras

pessoalmente podendo muito pouco

ofendido

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Nunca pensei que poderia me ofender com um lanche. Lá estava este lanche, antes embrulhado no papel alumínio estampado e depois estatelado com a própria estampa. Entregue, nu e cozido. Ao lado, uma caixa-preta, que mais parecia um embrulho de passarinho morto. Escavando o sarcófago, encontramos batata frita cheddar bacon e tudo mais. No suor, no ponto da casa.

Esse lanche me ofendeu profundamente. Não por eu acreditar que não deva ser tratado como um boi faminto (salvem os bois), mas essa comida, que se propunha uma refeição, se fez bosta de boi faminto.

Lá estava este lanche, na mesa, me encarando, e me impossibilitando de qualquer reação.

“O que eu faço com isso?”
“Come.”

Não só fui ofendido por aquela comida, como deveria comê-la. Lá fui comê-la. Com cuidado, o carinho que lhe faltou, tentando encontrar vida, qualquer resquício de vida.

Nesse momento, desisti desse lanche. Ele me custou 61 reais, uma ofensa e a absoluta convicção (ou desejo, por assim dizer) que não me deixarei ser ofendido por uma comida novamente.

Tenho corpo, carinho, família e amor. Não engolirei a seco trapos de aparições, da superfície da piscina ensolarada, indo com a onda.

Vai com a onda, pensei lá. Tentando entender como pude parar numa piscina. Olhando para o céu estremecido, me refugiando para os cantos. Como fui trazido até ali?

Pela onda, pelo fluxo. Aparecido estava, na piscina, imerso no confuso amor materno e das aparições. Aparecido seja, parecido somos.

Fui procurar vida, não é sempre que faço?

O resto, Daniel, você lembra.

Um homem acariciando um tomate