Maria
334 palavras emte encontrei em um não querer
“não posso ter
essa preocupação
aqui”
falando muito, suja
batendo em vidros na rua
gritando
envolto em um pano de saia
brava por tomar um banho
este banho que me levaria
a uma dúvida
essa dúvida tinha pouco de incerteza
pois, era sobre essência
“não há tempo para decidir
ela apareceu
então deverá ser”
nome:
Maria Fernanda
composto por piada
nomeada por necessidade
a diferença
subtração que fez
é a presença
olhando
piscando, mais ou menos
entendo? duvido constantemente
mas lá
acordava com suas mordidas
de dentes novos
com sua pequenez
de gato pequeno, ou ainda crescendo, sei lá
falei uma primeira vez
tentando entender o que queria
nessa possibilidade de entender
e ela miou
perguntei
silêncio
perguntei
miou
perguntei
miou
miava
miava
como mia
um grito no fundo da sala de desespero
olhando para o brinquedo que não se mexe
olhando para mim, sobre o brinquedo que não se mexe
duas da manhã, pilhado nos pixels
miando no fundo do corredor
um miado sofrido, estridente
gritante, me chamado para
a vida do brinquedo morto
de tudo que Maria pode me fornecer de valoroso
era a presença na solitude
chorava descontrolado no chão
lá estava ela olhando
para o brinquedo morto
tive toda a sorte de ter
um animal egoísta
que falava e pedia
coisas para si
clamando por ajuda
clamando por atenção
clamando por um pouco de carinho
o animal arisco
para um certo desagrado das visitas
para um esforço a mais do visitante permanente
como se aproximar
como agradar
como dizer que posso estar perto
anos, anos, anos
de construção
de se esconder em uma gaveta escura
para deitar em meu braço para dormir
sabe, Maria
foram 8 anos dessa escrita
8 anos de choro, alegria
8 anos de você vomitando
penso sobre companhia
paixão, incerteza
certeza de voltar e você estar lá
temperada, dormindo ou ignorando
tudo que me faz te amar
penso sobre a falta que fará
a esse meu velho modo de ser